segunda-feira, 2 de julho de 2007

Segunda-feira, 2 de Julho de 2007
Prova oral!

Como todos sabem hoje foi o dia da apreciação final do trabalho, momento esse que conta com uma apresentação sumária do dito e um espaço para que o professor orientador possa colocar questões que entenda serem pertinentes. Na verdade, este é apenas mais um momento deprimente em que somos bombardeados com perguntas cuja única finalidade é, vá lá, enterrar-nos.
No início da nossa arguição, o Excelentíssimo fez questão de nos elucidar acerca de alguns aspectos. Um deles é que, apesar de apenas ele e nós estarmos presentes, aquele era um momento formalíssimo! Pois bem, assim seja.
Procedemos então à nossa prelecção dos aspectos mais relevantes do trabalho e rezámos para que as perguntas não fossem muito difíceis. Realmente, não nos parece que se possa chamar difíceis às questões que o Excelentíssimo nos colocou. Eram mais... esquisitas. Se calhar, ao fim de tanto tempo, já devíamos estar acostumadas ao tipo de questões do Excelentíssimo mas, mais uma vez, ele conseguiu surpreendermos com a complexidade do seu pensamento, que consegue transformar a coisa mais evidente num problema sem solução.
Enfim, o que importa é que ele acha que apesar de todos os condicionalismos a estivemos sujeitas, fizemos um bom trabalho! Que felizmente chegou ao fim!
Agora que estamos prestes a dar por encerrado este espaço decidimos contemplar os nossos leitores com algumas perolazinhas que encontramos neste longo caminho. Aqui ficam alguns excertos das nossas entrevistas e algumas, digamos, calinadas.

Eu é o estômago, “tar” muitas horas sem comer e eu tenho problemas no estômago, era a pior coisa que eu tive, eu até ia descontraída ia bem (Diz-nos a nossa entrevistada referindo-se à sua maior preocupação com a cirurgia. Sem comentários!)

E não sentia necessidade de colocar questões?
Não, não, não.
Não tinha dúvidas?
Não.
Mas estava ansiosa?
Não.

(É complicado estabelecer um diálogo com pessoas tão comunicativas como esta!)

E a senhora não lhe perguntou?
Não. “Távamos” era agora a falar nisso ali, só que depois não perguntei, porque penso que antes de abalar que alguém que vem ter comigo a dizer olha… tal dia tem que cá vir, até lá tem que fazer isto ou aquilo. Penso eu que deveria ser assim porque nós não sabemos. Mas às vezes fazem-se de esquecidas e não dizem nada, também acontece.
Também acha que é por não ter perguntado?
Não! Não…às vezes as coisas são tantas que aquilo até…as pessoas passam, ou esquecem-se ou…não sei…
(Acerca destes comentários, dois pontos a reter: (1) realmente os enfermeiros têm muito em que pensar ao longo do dia e é bastante natural que, volta e meia, se esqueçam de alguns pormenores; (2) os utentes do Serviço Nacional de Saúde têm de ter uma atitude mais empenhada naquilo em que são eles os interessados de primeira ordem – a sua própria saúde. Têm de deixar de ser tão casmurros... “Ah, não vou perguntar nada porque é obrigação deles adivinharem o que eu quero saber”. Era o que faltava!

Foi a menina que estava ali, deve ser a enfermeira. De bata branca é enfermeira, não é? (Santa ignorância!)

Ela vem aqui às vezes, sempre a perguntar se é preciso alguma coisa e eu: “Não, menina. Deixa estar que eu trato de mim.”
(Por incrível que pareça, este senhor, de alguma idade (para não dizer mesmo, este velho!) está a referir-se a uma enfermeira. Sim, porque entre a classe mais idosa da população o termo menina refere-se às enfermeiras! E o que dizer do Deixa estar que eu trato de mim!? É o sonho de qualquer enfermeiro ter doentes que estão internados para tratarem deles próprios, não é?

Uma vez vim aqui, ah…estava lá na oficina, dei uma martelada e estalei-a e fui ao bidon de gasóleo sujo de lavar as peças, lavei o dedo, pronto isto está bom! Está bom! Realmente deixou de deitar sangue, oh menina, depois começou a ganhar, a infectar, a infectar, a infectar, vem aqui uma veiazinha por aqui acima e eu fazia assim: “ai que veia que está aqui, ai que veia que está aqui!”. Eu só fazia isto. Digo assim, ai que eu tenho de ir ao hospital! E depois começou a doer, tenho que ir ao hospital! Vim aqui ao hospital, o Dr. que era assim um rapagão novo, de maneira que quando chega ao pé de mim, deitou-me a mão aqui abaixo do braço, “eh!”, estava aqui um enchimento já…do hospital diziam que tinha de ser mesmo o Dr. porque o hospital parece que não tinha uma peça que era preciso para aquilo. E o que é que o Dr. resolvia fazer, e eu ajudei, a aquecer um clipe que ele endireitou, aqueceu no álcool num copo, e depois furou-me a unha, furou-me a unha e… deitou tanta porcaria, depois eu dei um salto, eu sabia o que ele ia fazer, para aquecer aquilo no álcool, eu sabia que ele ia furar a unha, mas era preciso o homem ter coragem para fazer isso não é? Depois apertou, apertou, saiu tanta porcaria, apertou, apertou, apertou até que me ia esborrachando o dedo todo. E eu fiquei assim a olhar para o dedo…Diz assim: “Ainda deita?” “Sei lá Sr. Dr! Oh Sr. Dr. Isto hoje é demais, estava a ver que me tinha de deitar para o chão.” De maneira que, depois fez-se o “pensozinho” e tal e aquilo passou a nada, mas estive cá, estive cá há espera x de tempo. Se fosse outro ia-se embora, mas se fosse embora já não chegava cá, foi o que ele me disse. Você se se tem ido embora já cá não chegava.
(Um magnifico relato do estilo A minha vida dava um filme... muito estúpido, mas dava!)

Eu nem nunca tossi…e nem quero tossir mas se quiser tossir faço para não tossir porque se tossir vai-me aleijar, não é?
(Sem comentários!)

Olhe menina é assim, eu já bebi, eu já fumei, eu já fiz tudo do pior que uma pessoa pode fazer, estás a perceber? Agora já não bebo, agora já não fumo, mas quer dizer, a vida não me deixou rasto nenhum, mas o fumo deixou…e então às vezes ainda cá vem aquele “cabrão” do tabaco, que eu passei por ele, a fumar a quase toda a vida e depois ali ao pé da escola agrícola ia para acender um cigarro, acabou-se o isqueiro. Acabou-se o isqueiro, atirei com o isqueiro fora e com o cigarro e pronto, nunca mais fumei.
(Excelente forma para deixar de fumar. E mais uma vez, um fantástico relato do estilo A minha vida dava um filme... muito estúpido, mas dava!)

Pois de facto como mobilizam pouco quase que é de recordar, mas não é o termo mais correcto pois será antes MOBILIZAR…
(O nosso querido Excelentíssimo referindo-se à pouca mobilização do modelo teórico de Betty Neuman ao longo do trabalho... Mais um gracejo do nosso prestigiado orientador em relação ao mísero trabalho que desenvolvemos durante ano e meio!)

A enfermagem é uma área ciencial! (Hã?)

1 comentário:

Unknown disse...

Bem, não poderia deixar de fazer um comentário ao blog que, tantas vezes me fez soltar umas boas gargalhadas depois de uns dias stressantes a organizar o Congresso Luso-Espanhol ou mesmo depois de um dia de trabalho árduo no hospital. É verdade... Parabéns pela escrita inteligente, pelo humor genuino e graciosamente repleto de ironias deliciosas. Bem hajam pelas personificações que apesar de parecerem um pouco exageradas, são sem mais nem menos o retrato exacto das grandes personagens que fazem parte da ilustre Escola! Bem hajam as sras enfermeiras que sofreram na pele o stress da monografia, mas que com muito humor, esforço e dedicação conseguiram ultrapassar os momentos mais dificeis (claro que isto deixa as suas mazelas)e fizeram sorrir os "cuscos" que se deliciavam com as narrações! PARABÉNS espero sinceramente que continuem a ser uma presença bem disposta e alegre e façam sorrir todos aqueles que a situação de saude ou doença colocar no vosso percurso enquanto enfermeiras!

AHH e Carina... Tu és a verdadeira SuperStar!!! Felicidades a todas!

Cristina